Taize Odelli: opinião sobre Explicação dos Pássaros


Um homem relativamente jovem está em crise. Pretende se separar da segunda esposa, sua mãe está internada com poucos dias de vida, e o resto de sua família o despreza. Ele escolheu caminhos opostos aos da família, e nada do que era esperado dele se concretizou. Em Explicação dos Pássaros Rui S. compartilha seus últimos dias de vida, carregados de lembranças e previsões para seu futuro. O quarto romance do português António Lobo Antunes, em nova edição pelo selo Alfaguara, da Objetiva, narra de forma densa uma história onde o destino não pode ser alterado.

Narrador e personagem se confundem. Em longas frases, a palavra passa de um para outro constantemente, onde os pensamentos de Rui são o material principal da narrativa. Os parágrafos são igualmente longos, e não há linha que separe o que é passado, presente ou futuro. O leitor deve constatar isso sozinho, auxiliado apenas por poucas palavras que possam situá-lo. É uma leitura truncada, difícil para aqueles acostumados com aspas, travessões e referências. Entretanto, o livro não foge à regra da maioria: com o tempo se acostuma, e logo a leitura flui normalmente.

Além da questão estética da narrativa, a gramática também atrapalhou no início. Aqueles que não são familiarizados com expressões e termos portugueses podem se perder facilmente entre as linhas. Ler na frente do computador pode se mostrar eficiente nessa hora. Mas é um desafio que vale a pena.

Rui S. vê a própria vida como um circo, cujo espetáculo é feito pelas pessoas à sua volta, e ele, protagonista, a atração final. Através dessa imagem criada pela personagem é possível entender a real frustração pela qual passa. Ele cria falas para os outros, afirmando o quão fracassado ele é, constatação do próprio Rui. Suas emoções transgridem a linha do tempo, e o que lhe passa atualmente nos é representado através de suas lembranças. Esse estilo dá à narrativa um ritmo frenético de mudança de tempo.

Explicação dos Pássaros é um livro que exige muito do leitor. Ele é um desafio, que ao final deixa uma sensação de triunfo enquanto Rui S. definha. Obra prima de António Lobo Antunes, que merece toda a atenção que ela necessita.


Taize Odelli
em diHITT
22.12.2009

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