Nuno Martins: opinião sobre Fado Alexandrino


Fado Alexandrino, é o 5º livro de António Lobo Antunes e é igualmente o maior.

Este livro, arranjando assim um ponto de comparação é uma espécie de "Ulisses" do James Joyce.

A acção propriamente dita decorre durante uma noite, madrugada e respectiva manhã em que num jantar de convívio de ex-combatentes da guerra colonial que tinham combatido em Moçambique, um grupo homens, o tenente - coronel (comandante do batalhão), um soldado, um alferes, um tenente e um capitão, vão contar toda a sua vida desde o dia da sua chegada da guerra até ao fim dessa manhã.

Sendo assim, o livro está dividido em três partes; antes da revolução, a revolução e depois da revolução e é nesse espaço temporal que a narrativa se vai desenrolando, com os personagens a contar todas as suas peripécias, contratempos, amores, desamores, casamentos, divórcios e tudo o mais que lhes aconteceu durante esses anos.

O livro para além de ser muito intenso (já se começa a notar o Lobo Antunes de escritos futuros), é também uma crítica profunda ao Portugal da década de 70 do século passado, com todos os seus defeitos, mesquinhices e brejeirices que nessa época (e na nossa igualmente) abundavam. É também uma crítica política pondo à mostra primeiro os excessos do regime anterior e da Pide e depois com a revolução, e a passagem de um regime acomodado e repressivo a um regime libertário e até mesmo um pouco "anarca", que foi o do Portugal pós 25 de Abril, o caos e os aproveitamentos políticos e vinganças pessoais que daí advieram.
 
O livro tem um final inesperado, que vai contribuir para um desenlace da história nada esperado.

Eu gostei deste livro, tem uma história bem construída, a vida dos personagens é complexa e por vezes cruza-se, sem eles próprios se aperceberem e é igualmente como atrás referi uma espécie de descrição de usos e costumes do Portugal da década de 70 do século XX.

Para quem nunca leu Lobo Antunes, não aconselho este livro para se iniciar, agora para quem já leu e quiser aventurar-se e tiver "paciência", devido ao tamanho do livro, aconselho-o vivamente.

 
Nuno Martins
05.11.2008

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