Sérgio Almeida: «'Crónicas', de Lobo Antunes: os escritos que nos conseguem ler» (sobre As Outras Crónicas)
Ao antagonismo em que cada vez mais estamos mergulhados não escapa a própria literatura. Numa lógica pseudo-competitiva que carece de sentido, inventariam-se autores e géneros como se estes se digladiassem entre si e não convergissem para propósitos idênticos. Mesmo dentro da própria obra, essa necessidade permanente de conflito já se faz sentir. Na bibliografia descomunal de António Lobo Antunes, por exemplo, tende-se demasiadas vezes a colocar em planos opostos os seus romances e livros de crónicas. E se não deixa de ser verdade que é o próprio escritor que, em certa medida, contribui para essa avaliação, ao desvalorizar a sua produção cronística, nem por isso deixamos de estar perante dois universos que dialogam em permanência, numa intertextualidade a vários títulos fascinante. Afinal, assistimos em ambos, ainda que com modelos bem distintos, a uma partilha do «espaço da ficcionalidade, da intimidade e da subjetividade», como bem sublinhou a docente Agripina Carriço Vieira a