Uma Longa Viagem com António Lobo Antunes, de João Céu e Silva - versão alargarda

Em pré-lançamento on-line e a ser colocado à venda no próximo dia 3 de Outubro, João Céu e Silva, jornalista e escritor, reedita o volume Uma Longa Conversa com António Lobo Antunes numa versão mais alargada.

«Durante os últimos quinze anos, João Céu e Silva manteve uma relação de grande intimidade com o escritor António Lobo Antunes, tendo-lhe feito mais de setenta entrevistas, dezenas de notícias sobre a sua carreira e críticas literárias de cada vez que publicava um romance, além de o ter acompanhado em várias viagens pela Europa e Estados Unidos da América. Com a pandemia, o contacto continuou através de telefonemas frequentes, sendo a partir daí maior a preocupação com a saúde do escritor, que se refugiou em casa e deixou de querer receber visitas com o receio de ser infetado pela covid-19, mas continuando ambos a conversar sobre a obra até que esse diálogo deixou de ser possível devido à degradação da sua saúde.

«É desse convívio intenso que esta nova edição de Uma Longa Viagem com António Lobo Antunes dá conta, passando a incluir muitas horas de novas conversas, múltiplos detalhes que agora têm uma outra interpretação, bem como toda a cobertura jornalística entretanto realizada. Esta é uma Longa Viagem indispensável para os admiradores de um dos mais importantes escritores das últimas décadas da literatura nacional e internacional.» (citado do site da Bertrand).

A deteoração do estado de saúde do nosso Escritor tem alguns anos, o que, entristecendo-nos, decidimos não tornar público neste site, respeitando, como sempre, a vontade da família. No entanto, a evidência foi, aos poucos, tornando-se do conhecimento geral. Citando Luís Osório, que em Setembro de 2022 já dava ao público uma pista no seu podcast Postal do Dia, e concretizando depois, no mesmo podcast, em Janeiro deste ano: [...] sozinho, emparedado em diálogos imaginados, em gente que não existe para nós, mas existe para ti, livros por escrever, murmúrios soprados por um Deus em que não acreditas, folhas em branco que sentes nunca mais serão tocadas pelo pelo teu lápis impecavelmente afiado. A nova edição de Joao Céu e Silva, que o acompanhou, nestes últimos anos recentes, não deixa margem para dúvida quanto à impossibilidade de novos livros que ALA pudesse ter estado a trabalhar no seu ritmo normal - um livro publicado e outro já em preparação na editora, o que permitia haver, quase todos os anos, a sempre esperada novidade editorial, não contando com os volumes de crónicas.

Tal evidência é também informada na edição do Expresso da semana passada, sobre esta reedição, que motivou o artigo que transcrevemos da Time Out Lisboa

«António Lobo Antunes anunciou várias vezes que deixaria de escrever, mas foi sem aviso que a demência dominou, por fim, o vício da escrita. Quem o afirma é João Céu e Silva, que acompanha o escritor há mais de década e meia. Segundo o Expresso, o jornalista dá a notícia, de que se impôs o “silêncio no reino da polifonia”, no texto de entrada de Uma Longa Viagem com António Lobo Antunes, que está prestes a reeditar pela Contraponto. A obra, revista e aumentada, chega às livrarias a 3 de Outubro, e avança que o eterno candidato ao Nobel da Literatura vive em “exílio da realidade”.

Durante duas centenas de horas, em dezenas de entrevistas realizadas nos últimos 15 anos, João Céu e Silva teve oportunidade de fazer uma revisitação completa à vida de António Lobo Antunes, incluindo ao estado de demência “que o foi invadindo” e que o tornou “irreconhecível”. O jornalista afirma que o escritor, além de não escrever nem fumar (algo que, para si, seria como respirar), também já não reconhece os seus próximos, tendo perdido, ao longo do último par de anos, “a noção do mundo que o rodeava e de si próprio”.

Lançado originalmente pela Porto Editora, em 2009, a nova edição de Uma Longa Viagem com António Lobo Antunes adiciona informação às entrevistas, anotações e reflexões que João Céu e Silva foi fazendo ao longo dos anos, incluindo a descrição mais detalhada do telefonema em que confirmou a degradação da saúde mental de António Lobo Antunes. Estávamos em Dezembro de 2021 e o escritor “estava como os personagens de muitos dos seus romances, que repetem ao longo do livro um mesmo pensamento, como se absortos da vida continuassem a viver”. Para Céu e Silva ficou então claro que muitos dos episódios de excentricidade de Lobo Antunes eram, na verdade, “sinais da doença”. “Foi durante esses 27 minutos que antevi o desfecho em curso da vida de António Lobo Antunes”, cita o Expresso, que teve acesso antecipado ao livro» (artigo escrito por Raquel Dias da Silva, 24.09.2024)


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