R.B. NorTør: opinião sobre Que Cavalos São Aqueles Que Fazem Sombra No Mar?
Que Cavalos São Aqueles Que Fazem Sombra No Mar?...
...Ou uma viagem às memórias de uma família. Ou uma viagem às memórias dos elementos de uma família. Ou uma viagem às memórias de cada um nós, no dia em que o nosso mundo se desfaz, uma viagem às profundezas da memória individual, não só de cada um, como de cada família, realizada através dos desabafos e das recordações de uma família de proprietários do Ribatejo.
É uma família atormentada pelas suas memórias, aquela que António Lobo Antunes nos traz nesta obra. Um pai morto e uma mãe a morrer, a empregada/ama bastarda e os filhos desavindos e desviados, quais alegorias dos males modernos que fervilham dentro de nós e nos fecham ao mundo dos outros. Somos levados por Lobo Antunes aos seus pensamentos enquanto esperam pela morte da mãe (não que a mãe não partilhe também as suas angústias do leito da morte) todos deambulando pelo solar dos Marques, percorrendo os seus locais e as suas janelas que engrossam, locais onde as suas memórias se ligam com o presente e nos desfilam as suas virtudes defeituosas e os seus traumas.
Em tempos sombrios, nos quais se vive sob o signo da (o)pressão e a palavra liberdade serve de máscara para limitação, a obra de Lobo Antunes não é um farol, mas não é mais uma pesada âncora para nos deprimir. Fazendo uso da sua experiência médica, somos conduzidos a uma consulta, o relato é isso mesmo, um relato, não um texto de reflexão, mas donde se pode retirar muita matéria para tal. Assume-se o texto como um elaborado apelo a que lidemos com os nosso fantasmas, um encorajamento a que deixemos para trás o peso morto de memórias dolorosas, que encaremos os defeitos de frente em vez de os ignorar e esconder em nome de uma qualquer aparência deturpada e de um status obscuro.
A escrita é a do estilo elaborado e muito próprio do autor, revelando-se de alguma dificuldade para quem espera uma narração toda ela linear e monótona. A necessidade constante de passar para o papel uma linha de raciocínio, com todas as que se cruzam nele, qual neurónio com as suas ramificações, faz com que a escrita se enriqueça, com frases de vinte páginas, como o individuo que sozinho no quarto, reflecte sobre si. O complexar dos raciocínios não aumenta no entanto a complexidade da escrita e após alguma habituação o leitor entrará facilmente no ritmo de leitura, apesar de eu recomendar que os primeiros capítulos sejam lidos de uma assentada.
por R.B. NorTør
em O Bug Cultural
31.03.2010
É uma família atormentada pelas suas memórias, aquela que António Lobo Antunes nos traz nesta obra. Um pai morto e uma mãe a morrer, a empregada/ama bastarda e os filhos desavindos e desviados, quais alegorias dos males modernos que fervilham dentro de nós e nos fecham ao mundo dos outros. Somos levados por Lobo Antunes aos seus pensamentos enquanto esperam pela morte da mãe (não que a mãe não partilhe também as suas angústias do leito da morte) todos deambulando pelo solar dos Marques, percorrendo os seus locais e as suas janelas que engrossam, locais onde as suas memórias se ligam com o presente e nos desfilam as suas virtudes defeituosas e os seus traumas.
Em tempos sombrios, nos quais se vive sob o signo da (o)pressão e a palavra liberdade serve de máscara para limitação, a obra de Lobo Antunes não é um farol, mas não é mais uma pesada âncora para nos deprimir. Fazendo uso da sua experiência médica, somos conduzidos a uma consulta, o relato é isso mesmo, um relato, não um texto de reflexão, mas donde se pode retirar muita matéria para tal. Assume-se o texto como um elaborado apelo a que lidemos com os nosso fantasmas, um encorajamento a que deixemos para trás o peso morto de memórias dolorosas, que encaremos os defeitos de frente em vez de os ignorar e esconder em nome de uma qualquer aparência deturpada e de um status obscuro.
A escrita é a do estilo elaborado e muito próprio do autor, revelando-se de alguma dificuldade para quem espera uma narração toda ela linear e monótona. A necessidade constante de passar para o papel uma linha de raciocínio, com todas as que se cruzam nele, qual neurónio com as suas ramificações, faz com que a escrita se enriqueça, com frases de vinte páginas, como o individuo que sozinho no quarto, reflecte sobre si. O complexar dos raciocínios não aumenta no entanto a complexidade da escrita e após alguma habituação o leitor entrará facilmente no ritmo de leitura, apesar de eu recomendar que os primeiros capítulos sejam lidos de uma assentada.
por R.B. NorTør
em O Bug Cultural
31.03.2010
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