Maria Celeste Pereira: opinião sobre Que Cavalos São Aqueles Que Fazem Sombra No Mar?
“Estou sentada não no carro com o meu marido, sozinha num dos degraus que conduzem à praia do estacionamento frente ao mar, a ver as luzes dos barcos. Não ficou bem, recomeça. Estou sentada não no carro com o meu marido, sozinha num dos degraus que conduzem à praia do estacionamento frente ao mar, sem ver as luzes dos barcos. Outra vez, corrigindo a partir de frente ao mar. Estou sentada não no carro com o meu marido, sozinha num dos degraus que conduzem à praia do estacionamento frente ao mar, mais a ouvir que olhando e não são as ondas que oiço, é o que mora no interior das ondas e as….”
Assim começa o último capítulo do último livro de António Lobo Antunes. E, aqui chegada, é já com alguma saudade que me vou despedindo de todo um suceder de afectos, ou da sua falta, através dos quais as personagens nos vão levando ora hesitantemente, ora sem dúvidas, fortemente, com raiva mesmo, até desvendarmos a história que o autor nos quer transmitir. Ou será aquela que queremos entender? Provavelmente um pouco de ambas…
Um pouco ao jeito do que li anteriormente (Meu nome é Legião), Também aqui as personagens se identificam pelos seus sentires, os seus desamores mais do que amores, as suas mínguas de carinho, as suas existências amarguradas, todas elas. Algumas quase que apagadas; existindo apenas porque tinham que existir, pelo seu propósito na família, mas não existido de facto, não se sentindo o seu ser.
Então, vamos paulatina e inexoravelmente, assistindo à decadência de uma família ribatejana, em que os cavalos e os toiros são (foram) a sua riqueza e o jogo, a droga, a pedofilia, a doença, a sua ruína.
Devo dizer que estava com uma curiosidade extrema e uma impaciência em relação à leitura deste romance do autor que não me lembro de ter tido com nenhum outro. Devido, sem dúvida, a algumas das afirmações feitas pelo autor nas entrevistas que deu; a algumas críticas que fui lendo entretanto e, sobretudo pelo misto de vontade e de receio que tinha em verificar se seria desta que o autor me iria desiludir…
Nem um pouco! Devo dizer que foi dos seus livros (dos que li, claro), se não o que mais apreciei, sem dúvida ficará no topo juntamente com o que li anteriormente, já referido.
O tipo de escrita que utiliza é, do meu ponto de vista, aquele a que já nos acostumou. A.L.A. consegue subverter a forma da linguagem convencional e torná-la, verdadeiramente, numa arte Maior. Só um trabalho intenso, persistente e acurado consegue um resultado final deste quilate. Um trabalho de mestre, sem dúvida, mas desprovido do hermetismo que o tornaria incompreensível.
Assim começa o último capítulo do último livro de António Lobo Antunes. E, aqui chegada, é já com alguma saudade que me vou despedindo de todo um suceder de afectos, ou da sua falta, através dos quais as personagens nos vão levando ora hesitantemente, ora sem dúvidas, fortemente, com raiva mesmo, até desvendarmos a história que o autor nos quer transmitir. Ou será aquela que queremos entender? Provavelmente um pouco de ambas…
Um pouco ao jeito do que li anteriormente (Meu nome é Legião), Também aqui as personagens se identificam pelos seus sentires, os seus desamores mais do que amores, as suas mínguas de carinho, as suas existências amarguradas, todas elas. Algumas quase que apagadas; existindo apenas porque tinham que existir, pelo seu propósito na família, mas não existido de facto, não se sentindo o seu ser.
Então, vamos paulatina e inexoravelmente, assistindo à decadência de uma família ribatejana, em que os cavalos e os toiros são (foram) a sua riqueza e o jogo, a droga, a pedofilia, a doença, a sua ruína.
Devo dizer que estava com uma curiosidade extrema e uma impaciência em relação à leitura deste romance do autor que não me lembro de ter tido com nenhum outro. Devido, sem dúvida, a algumas das afirmações feitas pelo autor nas entrevistas que deu; a algumas críticas que fui lendo entretanto e, sobretudo pelo misto de vontade e de receio que tinha em verificar se seria desta que o autor me iria desiludir…
Nem um pouco! Devo dizer que foi dos seus livros (dos que li, claro), se não o que mais apreciei, sem dúvida ficará no topo juntamente com o que li anteriormente, já referido.
O tipo de escrita que utiliza é, do meu ponto de vista, aquele a que já nos acostumou. A.L.A. consegue subverter a forma da linguagem convencional e torná-la, verdadeiramente, numa arte Maior. Só um trabalho intenso, persistente e acurado consegue um resultado final deste quilate. Um trabalho de mestre, sem dúvida, mas desprovido do hermetismo que o tornaria incompreensível.
Que me recorde (e admito que a memória me esteja a falhar) é o primeiro livro que leio do autor no qual ele próprio se dá voz como António Lobo Antunes, sem qualquer margem para dúvida. Também acontece de as personagens interagirem com ele sentindo-se compelidas a dizer (ou não dizer) algo a mando do autor. Interessante, também, esta interacção.
Um aspecto muito falado relativo à construção deste romance foi a utilização muitas vezes mesmo de sobretudo duas frases que, em jeito de estribilho, vão percorrendo todo o livro. Era também um dos aspectos que eu receava não gostar.
Contudo, tão bem me soube lê-las de todas as vezes que surgiram e que oportuno o seu aparecimento me pareceu sempre. Mais um aspecto de pendor poético a juntar a todos os outros que o autor nos oferece…
Para terminar, dado que não me compete a mim contar a história, apenas aqui quero deixar a impressão que o livro me causou, digo apenas:
Mais um livro que li com imenso agrado. Mais uma saudade que me ficou. Mais uma quantidade de momentos bem passados que eu recomendo.
Maria Celeste Pereira
02.11.2009
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