Sílvia da Rocha Andrade: opinião sobre As Naus
O livro As Naus, de António Lobo Antunes, publicado em 1988, narra a história de regresso à pátria, no caso, Portugal. Nessa narrativa há dois posicionamentos: a pátria do tempo dos descobrimentos e a pátria contemporânea. O autor busca no passado explicações para a condição atual de seu país.
Sobre esse prisma, a narrativa vai tecendo-se através de um narrador que não é fixo, às vezes está em primeira pessoa e em outras na terceira pessoa. O tempo narrativo é uma mistura entre o passado e presente; ao mesmo tempo em que há uma descrição de imagens do passado há, como contraponto, uma descrição de Portugal em nossos tempos.
De forma muito original, o autor utiliza, como personagens, personalidades importantes na história de Portugal como Pedro Álvares Cabral, Luis de Camões, D. Sebastião entre outros. Dessa forma, Lobo Antunes faz um resgate do passado dito "glorioso" e o compara com o resultado atual: uma pátria que vive de histórias pretéritas e que está estagnada em um tempo que não volta mais. Isso se atribui àquilo que José Mattoso escreve em A Identidade Nacional: A transposição da história para a epopeia deu-lhe, porém, a força do mito, não só para a gente pouco instruída, mas também para muitos dos autores mais cultos do século XIX, que continuaram a imaginar a gesta dos Descobrimentos a partir de Os Lusíadas. A sobreposição da História e do mito agravou o sentimento da decadência nacional...
A população portuguesa, vivendo desse passado, é chamada à realidade em As Naus. Esse processo de decadência nacional é representado no livro através da parodização. Lobo Antunes sugere a queda dos mitos, tornando-os seres humanos comuns, sem nenhum vestígio de glória.
O autor faz esse jogo como forma de reinterpretar o passado, criticar tantas "glórias" e chegar ao resultado de tudo isso: um novo processo de conscientização nacional. A colonização portuguesa em África, pois, é condição primordial em As Naus. Lobo Antunes escreve relatos dos primórdios da História Portuguesa e chega até a pós-revolução dos Cravos, quando se inicia o processo de descolonização. Portugal ainda mantinha, nessa época, a política colonialista representada por Salazar, última resistência aos movimentos liberais africanos.
Quando termina a ditadura salazarista, ocorre o processo de descolonização, gerando ao povo colonizado uma satisfação inigualável de independência, mas ao povo que o colonizou, acaba por obrigar a rever o seu significado de nação.
Toda essa representação crítica e, digamos, histórica de As Naus é feita através de uma linguagem "caótica", de um discurso delirante que acaba por se tornar uma grande alegoria. Questionamentos importantes como: quem fomos? quem somos? o que queremos? são abordados nas entrelinhas de As Naus. A necessidade desse olhar autocrítico para um redescobrimento de si mesmo.
Sobre esse prisma, a narrativa vai tecendo-se através de um narrador que não é fixo, às vezes está em primeira pessoa e em outras na terceira pessoa. O tempo narrativo é uma mistura entre o passado e presente; ao mesmo tempo em que há uma descrição de imagens do passado há, como contraponto, uma descrição de Portugal em nossos tempos.
De forma muito original, o autor utiliza, como personagens, personalidades importantes na história de Portugal como Pedro Álvares Cabral, Luis de Camões, D. Sebastião entre outros. Dessa forma, Lobo Antunes faz um resgate do passado dito "glorioso" e o compara com o resultado atual: uma pátria que vive de histórias pretéritas e que está estagnada em um tempo que não volta mais. Isso se atribui àquilo que José Mattoso escreve em A Identidade Nacional: A transposição da história para a epopeia deu-lhe, porém, a força do mito, não só para a gente pouco instruída, mas também para muitos dos autores mais cultos do século XIX, que continuaram a imaginar a gesta dos Descobrimentos a partir de Os Lusíadas. A sobreposição da História e do mito agravou o sentimento da decadência nacional...
A população portuguesa, vivendo desse passado, é chamada à realidade em As Naus. Esse processo de decadência nacional é representado no livro através da parodização. Lobo Antunes sugere a queda dos mitos, tornando-os seres humanos comuns, sem nenhum vestígio de glória.
O autor faz esse jogo como forma de reinterpretar o passado, criticar tantas "glórias" e chegar ao resultado de tudo isso: um novo processo de conscientização nacional. A colonização portuguesa em África, pois, é condição primordial em As Naus. Lobo Antunes escreve relatos dos primórdios da História Portuguesa e chega até a pós-revolução dos Cravos, quando se inicia o processo de descolonização. Portugal ainda mantinha, nessa época, a política colonialista representada por Salazar, última resistência aos movimentos liberais africanos.
Quando termina a ditadura salazarista, ocorre o processo de descolonização, gerando ao povo colonizado uma satisfação inigualável de independência, mas ao povo que o colonizou, acaba por obrigar a rever o seu significado de nação.
Toda essa representação crítica e, digamos, histórica de As Naus é feita através de uma linguagem "caótica", de um discurso delirante que acaba por se tornar uma grande alegoria. Questionamentos importantes como: quem fomos? quem somos? o que queremos? são abordados nas entrelinhas de As Naus. A necessidade desse olhar autocrítico para um redescobrimento de si mesmo.
por Sílvia da Rocha Andrade
23.06.2009
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