Entrevista em exclusivo para o nosso site
Entrevista em exclusivo
por José Alexandre Ramos com a colaboração de Teresa Brandão
18 de Fevereiro de 2009
«Não creio que haja poucos leitores em Portugal»
António Lobo Antunes, como forma de reconhecimento do trabalho feito neste site, concedeu-nos uma entrevista. Foi realizada via telefone e falou da repercussão sobre as suas declarações há dois dias no Diário de Notícias em que afirmou deixar os livros. Não deixará de escrever, mas possivelmente deixará de publicar. Irá continuar (ou recomeçar) o projecto da Biblioteca António Lobo Antunes com a publicação a baixo preço de obras de grande vulto, pela Dom Quixote. Crê que os portugueses lêem mais do que se diz, mas lamenta não haver dinheiro para os preços praticados nos livros em Portugal.
Na entrevista da passada segunda-feira, no Diário de Notícias, afirma que vai deixar de escrever. Isto é efectivamente verdade?
Eu julgo que isso está melhor explicado na crónica que sai amanhã na Visão. Não é bem como ele [João Céu e Silva] diz, ele tinha ali material muito bom para uma entrevista, mas é muito difícil fazer entrevistas. Agora, eu julgo que digo isso mais claramente no artigo da Visão. Eu vou continuar a escrever, o que provavelmente não vou fazer é continuar a publicar. Tenho um livro que acabei agora, que estou muito contente com ele, acho que nunca escrevi um livro assim. Queria ainda fazer um último livro e depois não sei...
Eu julgo que isso está melhor explicado na crónica que sai amanhã na Visão. Não é bem como ele [João Céu e Silva] diz, ele tinha ali material muito bom para uma entrevista, mas é muito difícil fazer entrevistas. Agora, eu julgo que digo isso mais claramente no artigo da Visão. Eu vou continuar a escrever, o que provavelmente não vou fazer é continuar a publicar. Tenho um livro que acabei agora, que estou muito contente com ele, acho que nunca escrevi um livro assim. Queria ainda fazer um último livro e depois não sei...
Disse em algumas entrevistas que temia "estar a rapar o fundo ao tacho", foi isso que aconteceu?
Isso eu sei não dizer... Eu pensava que não tinha força e ontem entreguei este livro, estive a vê-lo com a [nova] editora, com a Maria Piedade Ferreira, que é muito boa. Como sabe, a Tereza Coelho morreu, foi uma coisa muito difícil para mim, gostava muito dela e trabalhávamos juntos há muitos anos, foi muito difícil para mim. Esta editora é muito boa - olhe, é curioso, por coincidência, ela dirigia a Bertrand [nos finais da década de 70] e foi ela que recusou a Memória de Elefante. É engraçado como as coisas são. Pensava que eu estaria zangado com ela, mas nada, acho completamente natural, o Gide não percebeu o Proust e recusou-o, mas depois também aceitou o Conrad e compreendeu-o logo quando era difícil compreendê-lo. O Gallimard recusou o Céline, é uma coisa que acontece... Aparece um primeiro livro - sobretudo na altura - em que é tão estranho, tão diferente do que se publicava, que é perfeitamente natural a atitude dela. E portanto, acabei ontem de ver o novo livro com ela e foi muito agradável, estou muito contente, acho que nunca escrevi um livro assim. E o que tinha pensado era uma espécie de trilogia. O Arquipélago da Insónia, sem nunca ser nomeado, passa-se claramente no Alentejo, e este sem nunca ser nomeado, passa-se claramente no Ribatejo. E queria fazer um último que se passasse claramente na Beira Alta que é o sítio que eu melhor conheço e onde mais feliz fui. Eu sinto-me muito mais de Nelas do que de qualquer outro lugar. Aliás, há referências constantes a Nelas e à Beira Alta nos livros.
Isso eu sei não dizer... Eu pensava que não tinha força e ontem entreguei este livro, estive a vê-lo com a [nova] editora, com a Maria Piedade Ferreira, que é muito boa. Como sabe, a Tereza Coelho morreu, foi uma coisa muito difícil para mim, gostava muito dela e trabalhávamos juntos há muitos anos, foi muito difícil para mim. Esta editora é muito boa - olhe, é curioso, por coincidência, ela dirigia a Bertrand [nos finais da década de 70] e foi ela que recusou a Memória de Elefante. É engraçado como as coisas são. Pensava que eu estaria zangado com ela, mas nada, acho completamente natural, o Gide não percebeu o Proust e recusou-o, mas depois também aceitou o Conrad e compreendeu-o logo quando era difícil compreendê-lo. O Gallimard recusou o Céline, é uma coisa que acontece... Aparece um primeiro livro - sobretudo na altura - em que é tão estranho, tão diferente do que se publicava, que é perfeitamente natural a atitude dela. E portanto, acabei ontem de ver o novo livro com ela e foi muito agradável, estou muito contente, acho que nunca escrevi um livro assim. E o que tinha pensado era uma espécie de trilogia. O Arquipélago da Insónia, sem nunca ser nomeado, passa-se claramente no Alentejo, e este sem nunca ser nomeado, passa-se claramente no Ribatejo. E queria fazer um último que se passasse claramente na Beira Alta que é o sítio que eu melhor conheço e onde mais feliz fui. Eu sinto-me muito mais de Nelas do que de qualquer outro lugar. Aliás, há referências constantes a Nelas e à Beira Alta nos livros.
Os seus livros são genuinamente portugueses – e como refere sempre, escritos para os portugueses –, porque tem muito da nossa condição, muito da nossa idiossincrasia. Como entende o sucesso dos seus livros no estrangeiro? São assim tão bons os tradutores ou há uma parte de nós, portugueses, com que os leitores estrangeiros também se identificam?
Eu acho que estes livros são impossíveis de traduzir. Porque a nossa língua, o português, ao mesmo tempo é vago e preciso. Então isto põe imensos problemas de toda a ordem. Por exemplo, estava a ver ontem uma expressão com a tradutora, que era "não dar uma p'ra caixa". Isto para um tradutor é tremendo. Lembro-me de uma dúvida de um tradutor que era "alto lá com o charuto" ou "coisíssima nenhuma", isto é impossível de traduzir, a nossa língua é muito difícil de traduzir, e a maneira como eu a uso, torna muito difícil a tradução, isto é um tormento para os tradutores. Eu não sei, porque não costumo ler as traduções, mas julgo que as traduções francesas, de uma maneira geral, não são boas, mas dizem-me que as alemãs são muito boas. O problema dos tradutores, sabe, não é a língua de partida, é a língua de chegada. Por exemplo, o último livro que saiu nos Estados Unidos, eles fizeram cinco traduções ao longo de quatro anos, sempre a corrigir. É muito difícil, os livros põem problemas de tradução muito grandes. E então sobretudo a maneira como eu escrevo, é muito complicado.
Mas então como entende esse sucesso que obtém no estrangeiro?
Não lhe sei explicar. Isto agora é muito curioso, porque tornou-se uma unanimidade por todo o lado - mesmo nos tempos de crise que há agora - estão a aparecer livros no estrangeiro a uma cadência que me deixa de boca aberta. E todos estes prémios que têm vindo, cada ano vêm mais prémios. Mas os prémios nada têm que ver com a literatura, no sentido em que não torna os livros bons ou maus, melhores ou piores. Isso é uma coisa que me surpreende. Essa entrevista no Diário de Notícias nem imagina o que produziu, começaram a chover telefonemas para a editora, e até para aqui [atelier onde escreve], de Espanha, de França, daqui e dacolá. Nunca pensei que tivesse esta repercussão toda. Fico muito espantado. A gente no século XIX tinha trinta génios a escrever ao mesmo tempo, e agora se encontrarmos cinco bons escritores no mundo inteiro já não é mau, não sei se já deu conta disso. Para os editores é um problema. Esta senhora, Maria Piedade Ferreira, estava a dizer-me ontem que o que lhe aparece não é bom, seja de onde for, e não tem a qualidade que tinham esses grandes escritores do século XIX, que de certa maneira estendeu-se até à primeira metade do século XX, e depois começaram a rarear. Se começar à procura de livros bons escritos por autores vivos será muito difícil encontrar. Com certeza já deu fé disto... é muito difícil.
Não lhe sei explicar. Isto agora é muito curioso, porque tornou-se uma unanimidade por todo o lado - mesmo nos tempos de crise que há agora - estão a aparecer livros no estrangeiro a uma cadência que me deixa de boca aberta. E todos estes prémios que têm vindo, cada ano vêm mais prémios. Mas os prémios nada têm que ver com a literatura, no sentido em que não torna os livros bons ou maus, melhores ou piores. Isso é uma coisa que me surpreende. Essa entrevista no Diário de Notícias nem imagina o que produziu, começaram a chover telefonemas para a editora, e até para aqui [atelier onde escreve], de Espanha, de França, daqui e dacolá. Nunca pensei que tivesse esta repercussão toda. Fico muito espantado. A gente no século XIX tinha trinta génios a escrever ao mesmo tempo, e agora se encontrarmos cinco bons escritores no mundo inteiro já não é mau, não sei se já deu conta disso. Para os editores é um problema. Esta senhora, Maria Piedade Ferreira, estava a dizer-me ontem que o que lhe aparece não é bom, seja de onde for, e não tem a qualidade que tinham esses grandes escritores do século XIX, que de certa maneira estendeu-se até à primeira metade do século XX, e depois começaram a rarear. Se começar à procura de livros bons escritos por autores vivos será muito difícil encontrar. Com certeza já deu fé disto... é muito difícil.
Quais os livros mais importantes que aconselharia qualquer pessoa ler?
Isso os mais importantes não sei dizer... Agora vamos começar com uma biblioteca na Dom Quixote, em que eu faço pequeninos prefácios, usando o meu nome de maneira a tentar com que esses livros sejam lidos, de grandes escritores. Livros que estejam no domínio público e vão começar a sair este ano. Tinha feito um ensaio com o Tolstoi e com o Daudet, mas aquilo não saiu como eu gostava. Agora vamos começar com o Svevo, A Consciência de Zeno, O Coração das Trevas do Conrad, e A Letra Escarlate de Hawthorne. Portanto, este ano vamos publicar seis ou nove livros e depois, se o público aderir, usando um pequeno prefácio que não pretende ser crítico, pretende ser apenas uma coisa que dê vontade aos leitores de ler esses grandes livros. Se acontecer assim, vamos continuar. Publicar desde os latinos até - porque não? - ao Capitão Blood, que é um excelente livro do Sabatini, ou Salgari, isto misturado com o Vergílio, Ovídeo, Balzac, Melville, e por aí fora.
Isso os mais importantes não sei dizer... Agora vamos começar com uma biblioteca na Dom Quixote, em que eu faço pequeninos prefácios, usando o meu nome de maneira a tentar com que esses livros sejam lidos, de grandes escritores. Livros que estejam no domínio público e vão começar a sair este ano. Tinha feito um ensaio com o Tolstoi e com o Daudet, mas aquilo não saiu como eu gostava. Agora vamos começar com o Svevo, A Consciência de Zeno, O Coração das Trevas do Conrad, e A Letra Escarlate de Hawthorne. Portanto, este ano vamos publicar seis ou nove livros e depois, se o público aderir, usando um pequeno prefácio que não pretende ser crítico, pretende ser apenas uma coisa que dê vontade aos leitores de ler esses grandes livros. Se acontecer assim, vamos continuar. Publicar desde os latinos até - porque não? - ao Capitão Blood, que é um excelente livro do Sabatini, ou Salgari, isto misturado com o Vergílio, Ovídeo, Balzac, Melville, e por aí fora.
Mas vai ser uma colecção à parte, nova, ou a continuação da que já existe no género?
Não, é uma coisa que se vai chamar Biblioteca António Lobo Antunes. Ninguém vai ganhar dinheiro nenhum com isto, é só no sentido de poder haver três ou quatro mil exemplares vendidos de grandes livros. Porque por vezes saem livros bons e que ninguém nota, que passam despercebidos. Por exemplo, a Cotovia tem feito um trabalho notável, há pouco publicaram as Odes do Horácio. Não sei quantas pessoas compraram. E a tradução é boa. É feita por um rapaz muito novo que eu não conheço, terá 28 ou 29 anos, certamente será muito melhor daqui a vinte anos, mas a tradução já é muito boa. E eu gostaria muito que esses livros vendessem. Porque, sabe, as obras de arte são como os tigres, não se matam entre elas, e ver publicar um livro bom para mim é uma alegria.
Não, é uma coisa que se vai chamar Biblioteca António Lobo Antunes. Ninguém vai ganhar dinheiro nenhum com isto, é só no sentido de poder haver três ou quatro mil exemplares vendidos de grandes livros. Porque por vezes saem livros bons e que ninguém nota, que passam despercebidos. Por exemplo, a Cotovia tem feito um trabalho notável, há pouco publicaram as Odes do Horácio. Não sei quantas pessoas compraram. E a tradução é boa. É feita por um rapaz muito novo que eu não conheço, terá 28 ou 29 anos, certamente será muito melhor daqui a vinte anos, mas a tradução já é muito boa. E eu gostaria muito que esses livros vendessem. Porque, sabe, as obras de arte são como os tigres, não se matam entre elas, e ver publicar um livro bom para mim é uma alegria.
E a propósito, disse há pouco tempo que os livros em Portugal são "indecentemente caros". Como se pode contrariar isso?
Isso basta comparar com os preços que se fazem lá fora, não é? Os nossos livros são muito mais caros, o que é terrível. Por exemplo, o Fado Alexandrino custa seis contos... Neste momento de crise quem são os portugueses que têm dinheiro para o comprar? Portanto, o que se fez nessa biblioteca foi escolher livros que estão no domínio público em que não é necessário pagar direitos nenhuns. Permite tornar os livros mais baratos, fazê-los com capa dura e sobrecapa, de maneira a haver dignidade nisso. Agora vamos ver. Claro que os livros são caríssimos. Quantas vezes nas sessões de autógrafos as pessoas vêm ter comigo e dizem "Ah, só pude comprar um livro, não tenho dinheiro para comprar mais", o que é verdade! Três, quatro contos, para muitos portugueses é muito dinheiro neste momento. E as pessoas não têm dinheiro, isto é terrível! Porque não acabam por exemplo com o o IVA sobre os livros? (Faço perguntas porque não sei dar as respostas) Porque é que as editoras não abdicam um pouco da sua margem de lucro? Eu não sei o que é que se pode fazer, o que sei é que os livros são muito caros. E isso sempre me custou. Por exemplo, quando eu ia para o Liceu, ia a pé para poupar no dinheiro que os meus pais me davam para o transporte, para depois ir comprar livros em segunda-mão ao fim de semana, ia juntando dinheiro. É terrível o preço dos livros. Depois vêm com o argumento que o futebol é caro, ou que um concerto é caro... É possível, mas que há poucos leitores em Portugal, isso não creio. Há muita gente nova a ler, e quando digo gente nova, é adolescentes, dezasseis, dezassete, dezoito, dezanove anos... Isso é uma coisa extraordinária. Diz-se que os portugueses não lêem, eu não estou nada de acordo, nada. Parece-me que os portugueses lêem. Agora, simplesmente devia haver uma política diferente da parte das editoras também. Muitas vezes impingem gato por lebre. Livros sem qualidade a vender muito é um fenómeno que sempre existiu, simplesmente os meios de comunicação agora são outros, os meios de difusão são outros. E pode-se impor um tipo, e depois as caras tornam-se visíveis com as televisões, com isto com aquilo com aqueloutro... E não são os autores que interessa, são os livros. Os autores não têm importância nenhuma, o que me interessa são os livros.
Isso basta comparar com os preços que se fazem lá fora, não é? Os nossos livros são muito mais caros, o que é terrível. Por exemplo, o Fado Alexandrino custa seis contos... Neste momento de crise quem são os portugueses que têm dinheiro para o comprar? Portanto, o que se fez nessa biblioteca foi escolher livros que estão no domínio público em que não é necessário pagar direitos nenhuns. Permite tornar os livros mais baratos, fazê-los com capa dura e sobrecapa, de maneira a haver dignidade nisso. Agora vamos ver. Claro que os livros são caríssimos. Quantas vezes nas sessões de autógrafos as pessoas vêm ter comigo e dizem "Ah, só pude comprar um livro, não tenho dinheiro para comprar mais", o que é verdade! Três, quatro contos, para muitos portugueses é muito dinheiro neste momento. E as pessoas não têm dinheiro, isto é terrível! Porque não acabam por exemplo com o o IVA sobre os livros? (Faço perguntas porque não sei dar as respostas) Porque é que as editoras não abdicam um pouco da sua margem de lucro? Eu não sei o que é que se pode fazer, o que sei é que os livros são muito caros. E isso sempre me custou. Por exemplo, quando eu ia para o Liceu, ia a pé para poupar no dinheiro que os meus pais me davam para o transporte, para depois ir comprar livros em segunda-mão ao fim de semana, ia juntando dinheiro. É terrível o preço dos livros. Depois vêm com o argumento que o futebol é caro, ou que um concerto é caro... É possível, mas que há poucos leitores em Portugal, isso não creio. Há muita gente nova a ler, e quando digo gente nova, é adolescentes, dezasseis, dezassete, dezoito, dezanove anos... Isso é uma coisa extraordinária. Diz-se que os portugueses não lêem, eu não estou nada de acordo, nada. Parece-me que os portugueses lêem. Agora, simplesmente devia haver uma política diferente da parte das editoras também. Muitas vezes impingem gato por lebre. Livros sem qualidade a vender muito é um fenómeno que sempre existiu, simplesmente os meios de comunicação agora são outros, os meios de difusão são outros. E pode-se impor um tipo, e depois as caras tornam-se visíveis com as televisões, com isto com aquilo com aqueloutro... E não são os autores que interessa, são os livros. Os autores não têm importância nenhuma, o que me interessa são os livros.
Tem consciência que há muita gente que "lê" na internet actualmente...
Não faço a menor ideia, isso não sei.
Não faço a menor ideia, isso não sei.
... e o livro electrónico pode vir a ter maior relevo.
É possível, é possível, mas o livro objecto não vai desaparecer nunca. Porque nós gostamos do objecto. E podemos ler na cama, eu gosto de ler na cama, por exemplo. Eu gosto do objecto, gosto do cheiro do papel, gosto disso tudo. Eu creio que o livro não acaba. É possível que isso vá fazer concorrência à venda dos livros, mas não se vai passar como com os discos. Julgo eu, não sei, quem sou eu? Mas penso que as pessoas continuam a gostar do objecto. E é tão agradável ver uma parede forrada de livros. Eu vivo rodeado de livros e sinto aquilo muito aconchegante para mim. O meu problema é já não ter parede para os livros, mas é agradável para mim ver os livros na estante. Ver aqueles amigos que ali estão, é bonito também. Do meu ponto de vista, enfim.
É possível, é possível, mas o livro objecto não vai desaparecer nunca. Porque nós gostamos do objecto. E podemos ler na cama, eu gosto de ler na cama, por exemplo. Eu gosto do objecto, gosto do cheiro do papel, gosto disso tudo. Eu creio que o livro não acaba. É possível que isso vá fazer concorrência à venda dos livros, mas não se vai passar como com os discos. Julgo eu, não sei, quem sou eu? Mas penso que as pessoas continuam a gostar do objecto. E é tão agradável ver uma parede forrada de livros. Eu vivo rodeado de livros e sinto aquilo muito aconchegante para mim. O meu problema é já não ter parede para os livros, mas é agradável para mim ver os livros na estante. Ver aqueles amigos que ali estão, é bonito também. Do meu ponto de vista, enfim.
Quer deixar uma mensagem para os seus leitores que o procuram neste site? São muitos...
Não tinha a menor ideia. Sim, uma palavra de gratidão por me lerem. É para eles que eu escrevo. Ninguém escreve para si, isso é uma mentira. É para eles que eu escrevo, é para as pessoas do meu país que eu escrevo. Fico muito grato porque, sabe, numa altura em que se gasta oito horas num emprego ou numa faculdade, e mais não sei quanto tempo nos transportes, e depois a televisão, e a internet que falou, e o telefone, e os jornais, o marido ou a mulher, e os filhos, tudo é feito para as pessoas não lerem. E no entanto as pessoas continuam a ler e eu não posso deixar de estar grato às pessoas que me lêem, porque são elas que me permitem viver dos livros. Portanto, é uma gratidão para mim muito, muito grande. As pessoas têm sido de um calor e de um entusiasmo muito grandes. Espero não os desiludir com os próximos trabalhos. E sobretudo um grande abraço para si. Até breve, espero.
Não tinha a menor ideia. Sim, uma palavra de gratidão por me lerem. É para eles que eu escrevo. Ninguém escreve para si, isso é uma mentira. É para eles que eu escrevo, é para as pessoas do meu país que eu escrevo. Fico muito grato porque, sabe, numa altura em que se gasta oito horas num emprego ou numa faculdade, e mais não sei quanto tempo nos transportes, e depois a televisão, e a internet que falou, e o telefone, e os jornais, o marido ou a mulher, e os filhos, tudo é feito para as pessoas não lerem. E no entanto as pessoas continuam a ler e eu não posso deixar de estar grato às pessoas que me lêem, porque são elas que me permitem viver dos livros. Portanto, é uma gratidão para mim muito, muito grande. As pessoas têm sido de um calor e de um entusiasmo muito grandes. Espero não os desiludir com os próximos trabalhos. E sobretudo um grande abraço para si. Até breve, espero.
Está para breve uma visita sua ao Porto?
Eu penso que em Março talvez vá aí ao Porto. Tenho ido várias vezes, não para assinar livros, só porque gosto do Porto. E tenho uma grande dívida de gratidão para com o Porto, aliás disse isso quando lá estive. Porque quando estava doente, foi o sítio de onde vieram mais mensagens, e que foram extraordinárias, que me deram muita força. Fizeram-me sentir uma coisa muito boa, que são os amigos desconhecidos que os livros trazem, isso é o mais importante de tudo. É a coisa mais importante da vida a amizade. Um homem sem amigos é um pobre.
Obrigado António.
Um grande abraço para si.
entrevista exclusiva
18.02.2009
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