"Tenho a sensação de que ando a negociar com a morte"
Pública (suplemento dominical do jornal Público)
entrevista de Alexandra Lucas Coelho
29 Outubro 2006
Diz de si próprio que está cada vez mais autista, mas acaba por falar do Iraque e de Israel. De elogiar Sócrates, Cavaco, Soares, Ribeiro e Castro. Acha que é óbvio que o Governo é corajoso e os sindicatos são primários. De resto, não tem tempo para o mundo. Acaba de publicar "Ontem não te vi em Babilónia". Tem outro livro pronto. E começou a escrever outro, à volta de um autista.
Ainda não é desta que pode morrer (na última entrevista o PÚBLICO tinha dito que já podia morrer). Deram-lhe uma coisa, é o que ele acha. É o emissário de um rei desconhecido, como no soneto de Pessoa (que, aliás, não é um escritor dos seus). Por isso, ao fim de um mês sem escrever sente-se infiel. Não só ninguém escreve como ele (repete ele, e é verdade), como escreve "cada vez melhor".
A arrogância é um luxo a que António Lobo Antunes se pode dar, como poucos. E dá, com um quê de quem sobretudo se diverte a ver a cara dos outros. Ainda escreve cada vez melhor, podia ele acrescentar. É a cada livro que estende o limite. Não vê muitos para a frente e tem horror à decadência.
Entre o dia em que esta entrevista aconteceu (segunda-feira) e hoje, aconteceram, pelo menos, a sessão de lançamento do novo livro [...], a publicação de uma outra entrevista e a transmissão de outra. Quando propôs esta entrevista à Pública, a editora Dom Quixote disse que o António Lobo Antunes estava com vontade de falar sobre o mundo.
Revista Pública
29.10.2006
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