Carla Vigário: «Um regressar ao passado», sobre Não É Meia Noite Quem Quer
Ler este livro foi um martírio . Uma narrativa pesada, densa, sem propriamente um fio condutor, uma data, um local, um nome, nada a que me agarrar na sufocante escrita. Para mim António Lobo Antunes é alta patente, um homem vivido, sui generis, complexo, culto, acima da banalidade, jamais achei possível, e continuo com a mesma convicção, de conseguir alcançá-lo. Este livro é um exemplo de que por vezes vale a pena resistir. Esta narrativa acompanha os pensamentos de uma mulher de 50 anos, que regressa à casa de praia onde passou as férias da sua infância. Nós estamos dentro da sua cabeça e vamos assistindo às suas memórias desconexas, às suas emoções não categorizadas, que vão saltando a uma velocidade feroz, de acontecimento em acontecimento durante a sua vida, indiferentes à época, como se antes nos tivesse sido dado contexto, exatamente da mesmíssima forma como são os pensamentos, incontroláveis e supersónicos . Por este motivo considerei difícil seguir a narrativa, de encontrar o...