Ana Paula Arnaut disserta sobre Sôbolos Rios Que Vão


Sôbolos Rios Que Vão de António Lobo Antunes:
quando as semelhanças não podem ser coincidências *

Há trinta anos atrás, num artigo intitulado “Sôbolos rios que vão: uma estética arquitectónica”, Maria Vitalina Leal de Matos confessa ter sido “levada a constatar e a admitir que o poema, a muitos títulos assombroso, pode facilmente decepcionar o leitor, desprovido como é das qualidades estéticas com que o lirismo camoniano mais frequentemente deslumbra” .

Não sendo embora nossa intenção fazer um pormenorizado estudo comparativo entre as redondilhas de Camões1 e o novo romance de António Lobo Antunes, não podemos deixar de verificar as inúmeras semelhanças entre os dois textos. Desde logo, a apropriação integral, para título do livro, do primeiro verso do célebre poema camoniano. É verdade, diga-se a propósito, que a identificação titular poderia não constituir um facto significativo, pois já nos habituámos a que o pórtico da obra nem sempre revele o que vai dentro das suas páginas, escondendo mais do que revelando, confundindo mais do que esclarecendo, frustrando expectativas de leitura mais do confirmando as inicialmente criadas. Não é exactamente este o caso, como veremos de seguida.


* este artigo foi apresentado no Colóquio Pensar a Literatura no século XXI - Faculdade de Filosofia / Universidade Católica Portuguesa, Braga (30 de Setembro e 1 de Outubro de 2010), e agora publicado no nosso espaço por cortesia de Ana Paula Arnaut

por Ana Paula Arnaut
Universidade de Coimbra
Setembro de 2010

Comentários

  1. É sempre curioso ler o que um estudioso pensa e me faz emocionar como se tratasse de mim a olhar as palavras a senti-las, a vivenciar situações semelhantes que como não sei escrever as revejo semelhantes que me tocam como se conseguisse ser eu a escrevê-las e as pequeninas coisas vividas, de repente ali escarrapachadas para que todos tentem vivê-las como suas, mas são minhas porque só eu brinquei com os escravelhos, demorei o tempo que me apeteceu a ver os carreiros das formigas que terminavam num "vulcão" de areia cheia de palhinhas insectos sementes maiores do que quem as transportava e pediam ajuda chegando a ser quatro com a mesma peça à cabeça. Os barcos à vela que o vento conduzia pelas regadeiras até redopiarem nas caldeiras das árvores...pardais, andorinhas, cucos...ouriços mais os animais que não podiam fugir porque os prendiam como escravos apesar de os limparem e alimentarem...vou parar porque já estou também a ver o avô a examinar os enxertos que gostava de fazer enquanto perguntava quantos litros de capacidade tinha o tanque de rega e nos dava para a mão a fita métrica ; à noite mesmo as mais claras havia cinema quando passava o comboio das dez e as árvores e tudo o mais passava a correr na parede caiada da casa . Peço desculpa por não ser um comentário intelectual, é só a emoção que remexe e transporta para um futuro presente migalhas do passado...MGT

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